Sem indicar como poderia haver apoio popular e das Forças Armadas, documentos publicados por revista “Veja” sugerem também intenção de afastar ministros do Supremo e instaurar intervenção militar
Apesar de não dizer como conseguiria apoio popular e adesão da cúpula das Forças Armadas, documentos encontrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid indicam que havia alguns militares desejando anular as eleições presidenciais de 2022, destituir ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e fazer uma intervenção militar no Brasil.
Tudo isso está em arquivos encontrados pela PF (Polícia Federal) no telefone do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os documentos foram publicados pela revista Veja na 5ª feira (15.jun.2023). Ninguém do Alto Comando das Forças Armadas nem Bolsonaro aparece nesses documentos dando apoio ao plano de rejeitar o resultado das eleições de 2022.
O documento principal “Forças Armadas como poder moderador” tem 3 páginas. Lista 8 etapas para a execução do plano, sem apresentar nenhuma explicação de como seria possível obter apoio institucional para tais medidas. São elas:
1. nomeação de um interventor federal;
2. fixação de um prazo para restabelecimento da ordem Constitucional;
3. definição da Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal como subordinadas ao interventor;
4. suspensão de atos do Poder Judiciário e afastamento de ministros;
5. abertura de inquérito para investigar os ministros afastados;
6. autorização para que o interventor suspenda outros atos inconstitucionais praticados pelo Judiciário;
7. substituição dos ministros do TSE afastados;
8. fixação de prazo para a realização de novas eleições.
Os arquivos encontrados no celular de Cid indicam que o plano foi feito com base na tese de que, caso Bolsonaro perdesse as eleições, haveria um conflito entre os poderes –considerando, segundo aliados bolsonaristas, que a derrota do então presidente teria sido ocasionada por decisões “inconstitucionais” proferidas durante a campanha eleitoral pelos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desta forma, por entre outros motivos, mas tendo este como o principal, militares poderiam, segundo o plano, serem convocados e uma intervenção militar poderia ser instaurada.
“Entende-se que o conjunto dos fatos descritos seriam capazes de demonstrar não só uma atuação abusiva do Judiciário, mas também abuso praticado pelos maiores conglomerados de mídia brasileira, de modo a influenciar diretamente o eleitor e o resultado da eleição em favor de determinado candidato”, diz o autor de um texto encontrado com Cid, segundo a revista Veja.
O documento faz parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. Os peritos analisara mensagens de WhatsApp, áudios, backups de segurança e arquivos armazenados pelo auxiliar do ex-presidente em seu aparelho celular.
De acordo com a revista Veja, um 2º documento, encontrado no telefone do ex-ajudante de ordens, indica que foi avaliada também a hipótese de decretação do estado de sítio, uma das medidas mais extremadas previstas na Constituição. O ministro Alexandre de Moraes é citado como justificativa para a decretação da medida.
O texto diz que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, “nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e [o vice-presidente] Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. Moraes foi secretário de Estado de Alckmin duas vezes, quando o vice-presidente era governador de São Paulo.
Poder 360